TEXTO 01
Resenha crítica produzida a partir do
documentário de “Amy Winehousse” exibido em sala de aula.
Um
mito? A história decidirá.
Uma mulher talentosa, vulcão de energia
que se expirava nas dores da própria existência. Com o poder da sua voz,
encantava a todos cantando e interpretando como poucos sobre a solidão. Não
escondia seus monstros internos, que eram tatuados aos poucos no corpo e alma.
Experimentou da melhor e pior maneira o
seu sofrimento, extraía abruptamente de sua essência a dor da existência,
pautada pela tristeza e pela solidão, o que lhe causava um vazio existencial
quando estava fora dos estúdios e dos palcos. Não suportou o peso de sua
personalidade contraditória.
Não usou a fama e o assédio para se
fortalecer, permitiu ser empurrada por
eles para um cárcere, um abismo escuro que foi tomando posse do seu ser como se
fosse uma erva daninha que recobre uma grande árvore sufocando e matando-a. O
chão lhe sumiu por diversas vezes debaixo dos pés, fazendo-a flertar com os
seus demônios internos e externos e com muita dor, o seu acerto de contas chegou prematuramente.
Referência:
Documentário
sobre Amy Winehouse, "I told you I was trouble". Londres, 2007. 46
min.
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TEXTO 02
Crônica
produzido a partir da música “Eu despedi o meu patrão” de Z.B.
Sombras
das Reminiscências
No início do mês de janeiro daquele ano,
recebemos o currículo extenso e brilhante daquele que seria o novo gerente do
setor de comunicação da empresa. A expectativa era grande, entre nós colegas da
unidade. Nesse mesmo dia à tarde, nos foi apresentado um senhor elegante, de
aproximadamente um metro e oitenta, magro, moreno, de meia idade, bem calvo e
usava óculos de lentes muito fortes que deformavam o seu olhar. Tinha um belo
discurso e sabia dizer como ninguém, aquilo que todo bom funcionário gostaria
de ouvir do seu chefe, como: o nosso lema agora é mudança, vamos melhor
estruturação do setor, criaremos grandes oportunidades de expansão, integração
total em redes, estudos e implantação de projetos, cursos de especialização,
etc., etc., etc. Estávamos maravilhados com a aquisição!
Os dias foram passando, as demandas
aparecendo e a confusão se instalando naquele pequeno setor que era formado por
oito colaboradores: um jornalista, uma RP, um técnico de som, uma secretária,
dois estagiários, um web, eu, uma profissional da área gráfica, além dele, é claro: O novo gerente!
Você consegue imaginar como seria a
situação se toda vez que o seu chefe quisesse falar com você, ele estalasse os
dedos energicamente e dissesse: “Fulano
venha até aqui!”? A princípio você acata, mas ele continua: cadê o seu
caderno de notas? Você volta, rapidamente, busca o seu caderno de anotações,
anota tudo freneticamente, mesmo sabendo que ele nunca mais fará referências ou
precisará daquelas anotações. Ninguém
sabe porque ele não dava sequência a nada, inclusive engavetou vários projetos
da equipe. Acredito que ele até tentou algumas vezes apresentá-los ao corpo
diretor, como sendo de sua própria autoria, é claro! Mas como não entendia
patavina do assunto, não conseguia dar sustentação, se confundia e desistia,
engavetando todos eles. Queríamos ser
otimistas e procurávamos uma explicação para aquela obcessão de anotar tudo,
achamos que talvez ele tivesse um
espírito italiano e quisesse difundir o costume das notas no
“moleskine”; aquele tradicional caderno feito à mão, caríssimo, utilizado pelos europeus, onde “o anotar ou desenhar” é um prazer e o objeto de seu conteúdo tornam caminho natural das coisas do
mundo, registro do olhar e compreensão do autor. O que é claro não era a nossa
realidade ali. E-mails? Quando chegavam
a nossas caixas, enviados por ele, alem de trazerem determinações de tarefas
com prazos vencidos, muitas vezes as mesmas já haviam sido executada há dias ou
meses. Uma adaptação curiosa foi a modificações que nossos nomes sofreram nesse
meio de comunicação. Cada um de nós havia ganhado seu próprio pseudônimo que
era a primeira letra do nome de cada um.
Funcionava assim: - “K.” , que
era o meu pseudônimo, execute isto ou aquilo.
Conformávamos-nos, pois tínhamos a
certeza de que nada era pessoal. Ele distribuía as suas sandices a todos, como
um verdadeiro líder, é claro que com as funções invertidas... Toda a equipe teve o desprazer de executar
tarefas descabidas determinadas por ele.
Nessa época comecei a sofrer de
taquicardia! Às vezes ele passava atrás
da minha cadeira, dava uns três tapinhas no meu ombro e dizia: - Me acompanhe! Eu até tentava
argumentar: - Sim, mas onde vamos, o que
devo levar, é uma reunião, há uma pauta, algum release? Ele dizia:
- Não se preocupe.
Ai! Era o sinal de que eu deveria me
preocupar e muito! Eu o acompanhava, rezando sempre. Aprendi muitas orações
novas. Passei por diversas situações constrangedoras depois que ele cismou que
eu deveria fazer às vezes de uma RP. Logo eu que sou incapaz de memorizar um
nome sem antes repeti-lo no mínimo vinte de vezes? Eu uso esta técnica milenar
chinesa de repetição. Nestes eventos costuma estar presentes uma infinidade de
políticos e empresários, que a meu ver eram todos muito parecidos, todos de
terno escuro, cinza, preto ou azul marinho, de cabelos grisalhos e a única
diferença que conseguia perceber era os óculos, uns usavam outros não... E isso
não ajudava muito. Esta nova função me causou vários constrangimentos. Tive que assistir a extensas reuniões de
missões estrangeiras como a de uma comitiva de indianos, outra de chineses, eu
ficava lá, apreensiva o tempo todo, não entendia uma só palavra além do medo de
cometer gafes, pois não tinha tido tempo para estudar nem um pouquinho da cultura daqueles povos. Cheguei até a achar comum ver autoridades se afastarem de nós, de cara
fechada, depois que eu confundia os seus nomes.
Um dia ele passou atrás de mim,
aplicou-me aqueles medonhos “três tapinhas” nos ombros, dizendo que iríamos a
uma reunião no andar de cima. Pelo menos ele avisou onde era... Peguei o meu crachá
corporativo e saí atrás dele.
Encontramos com o vice-presidente que também era recém contratado pela
instituição, entramos no elevador, que
foi direto para a garagem! Para a
garagem?! Sim, havia um motorista nos esperando na garagem do prédio, a pedido
do vice. Eles falavam muito e não me devam a oportunidade de perguntar onde
diabos era a tal reunião. Seguimos
viagem até paramos no aeroporto internacional, era um grande evento com a presença
do governador, várias autoridades entre políticos e pessoas ilustres. Respirei
fundo, contei até dez, duas vezes, tentei me convencer que deveria continuar a
ser profissional e exercer o meu novo papel de relações públicas, afinal
conhecia muitas daquelas pessoas que não tinham nada a ver com o equívoco, e segui apresentando-os, na tentativa de
inserir os novos contratados naquela comunidade.
Finalmente acabou! Acreditei que a tinha
cumprido a minha missão naquele dia e voltaríamos à empresa, para traz do meu
computador e de onde nunca deveria ter saído.
Eles resolvem parar para almoçar, afinal já passava do meio dia. Como estávamos no mesmo carro, tive que
acompanhá-los. Era um restaurante caro, mas no meu entendimento, era um almoço
de trabalho. Quando chegou a conta, ele
rateou o valor igualmente para todos e não me poupou do vexame de ter que
justificar que o meu crachá ainda não era cartão de crédito, que eu não tinha levado a minha bolsa e não tinha
dinheiro! Eles pagaram a minha parte na conta, mas ficou a sensação de que eu
tinha dado uma de “migué”, porque eles são homens e não entendem que as
mulheres usam roupas sem bolsos e só carregam os seus pertences em bolsas,
naquele momento ninguém imaginaria que eu, uma designer, saí de manhã da minha confortável estação de
trabalho para ir ao andar de cima do mesmo prédio, fazer alguma apresentação
gráfica.
O ano foi passando e as confusões da
“nova e moderna administração” eram cada vez mais frequentes, a cada dia outros
colaboradores eram envolvidos, até contaminar toda a empresa e o assunto virar
piada de corredor, na verdade eram piadas de toda natureza.
Não sabemos bem o momento em que o
assunto virou de “reunião de diretoria”. A equipe da comunicação, com exceção
do brilhante GERENTE, foi convocada a comparecer à sala do presidente, onde
pediram que explicássemos qual era o porquê de tantos equívocos, desencontros,
não cumprimento de tarefas e principalmente tantos comentários. Explicamos tudo e até tentamos contornar a
situação sugerindo que ele tinha o perfil de outro cargo de chefia, como chefe
de gabinete. O presidente sequer considerou, somente nos perguntou,
brincando, se queríamos era “ferrar” com ele, uma vez que a chefia de gabinete
é diretamente ligada a presidência. Não
tinha jeito, o mal estava feito e a situação do novo gerente não era nada boa.
Soubemos por outros gerentes que houve uma reunião onde o presidente disse
ao novo gerente: - Você teve várias oportunidades para fazer o seu trabalho e
não aproveitou nenhuma delas. Estamos
lhe comunicando oficialmente que você não faz mais parte da equipe desta
empresa. Pegue as suas coisas e vá embora.
Sabendo do acontecido e por se tratar de
assunto delicado, ficamos esperando que ele tomasse a iniciativa de conversar
conosco. Somente na semana seguinte ele
convidou muito educadamente toda a equipe para uma reunião. Disse-nos que ele havia recebido uma proposta
irrecusável na área jurídica de uma grande empresa, que foi uma decisão difícil,
mas havia resolvido seguir por este caminho. Lamentava muito nos deixar, pois
éramos uma grande equipe. Ficou por ali
mais alguns dias, dizendo que estaria finalizando algumas tarefas até o dia que
foi embora de vez.
Referência:
BALEIRO, Zeca. Eu despedi o meu patrão. In:_Pets
hgo mudação. Manaus: Abril Music, 2005.
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